Joanita Armando, Namapa

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Primeiro só ouvíamos dizer, depois passaram pessoas estranhas e ficámos a nos perguntar, “Essas pessoas que passam por aqui, vêm de onde?”.

Quando os insurgentes atacaram, nós conseguimos fugir para o mato. Saímos todos, as pessoas que tinham sido capturadas, a sorte delas é que foram soltas. Ao chegarmos aqui, acabámos nos dispersando porque alguns acharam melhor ir para Pemba, em casa de familiares e outros sítios. Nós ficámos aqui em Cuaia.

Aqui no centro, a Júlia costuma vir-nos ensinar que a mulher não pode dormir, não podemos ficar paradas, à espera do homem, mas levantar-nos e fazer algo. O mais importante para mim é isso porque quando faço negócio, tenho dinheiro para comprar roupas para as crianças, quando acaba a comida, consigo aumentar e compro o que preciso.

O meu marido vai na aldeia para cortar paus, para fazer carvão, vende e quando consegue dinheiro ele traz. Eu levo o dinheiro para comprar trigo e faço bolinhos e vendo na sede. Na minha parte, não tenho sofrimento porque eu e meu marido nos ajudamos.

Os donos da terra são os que não se entendem connosco. Não há entendimento. Por exemplo, tem mangueiras aí assim, o dono diz, “Ai daquele que apanhar manga aqui, ele também vai apanhar!” Não sei porquê.

Nós não estamos bem aqui. Quanto estamos doentes, vamos ao hospital na sede do distrito ou noutro centro, mas é distante, uma mulher grávida quando sentir dores e, se não for cedo no hospital, corre o risco de dar parto pelo caminho, porque é distante daqui ao hospital. Pode levar-se uma hora a lá chegar.

A água, antes vendia-se, mesmo que não tivéssemos como comprar. Depois veio o Governo, disse para não se vender porque o centro de reassentamento precisa de água e as pessoas não têm nenhum dinheiro. Assim, já não vendem água, mas na mesma, não chega para todos. Vai um grupo num dia, depois os outros têm de vir no dia seguinte.

A tropa moçambicana, no princípio tentou-se esforçar e fazer de tudo para defender a população, só que não conseguiram porque os Al-Shabaab são mais fortes. E são bem preparados, mais do que a nossa tropa. A tropa estrangeira já não sei, só vi a tropa moçambicana.

O meu sonho é de voltar a ser a mulher de antes, porque tinha casa e muitas coisas, fazia negócios e muito mais. Estamos a ver que pelo caminho até à aldeia, já não tem problemas. Já voltei para lá uma vez e fiquei um mês. Vim para aqui de novo porque as minhas amigas e as outras pessoas estão aqui. O meu marido já voltou a viver lá, ele veio ontem, mas há-de ir embora amanhã. Se o meu marido decidir que a família volta, voltaremos juntos.