Ancha Celestino, Macomia Sede

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Começámos a ouvir de noite que entraram em Mucojo, Mocímboa, até chegarem em Palma. É quando nos apercebemos que havia guerra. Depois começaram os ataques, alguns foram mortos, outros queimados dentro dos carros. Tivemos de correr para dentro do mato, ficar lá escondidos. Foram cinco dias a andar, era só andar, sem olhar para trás, como se estivéssemos cegos de medo.

No mato, procurávamos comida pelo caminho, encontrávamos mandioca, comíamos, e continuávamos a fugir e voltávamos a dormir no mato. Até cheguei ao ponto de dormir por cima de uma cobra, mas ela não me picou porque esse tipo de cobra conhece gente necessitada.

Cheguei aqui lutando, já que eu precisava chegar a um sítio. Algumas terras têm dono, outros saíram daqui faz tempo. Há quem aceite um pagamento para usarmos a terra e outros que não aceitam. Recebemos ajuda somente três vezes do PMA, davam-nos comida.

Eu, na minha terra, a maneira como vivia, ia à machamba, fazia pedras de gelo, vendia, fazia maheu, vendia, ganhava o pão assim. Nesses dias, estava casada, o meu marido tinha muitas esposas, então depois de fugirmos da guerra, ele me deixou, foi ficar com outra mulher.

Sou mãe de 9 filhos. A casa que eu construí aqui, construí sozinha. Os paus que precisei, fui eu que cortei com as minhas próprias mãos. Aqui as mulheres sozinhas não esperam homens para construir casa para elas.

Eu também não podia esperar, alguns dos meus filhos ainda são crianças para eu sustentar, outros fugiram para Pemba, o mais velho ficou na aldeia porque habituou ficar na terra dele. O meu marido… ele está por aqui com a outra mulher, não me ajuda.

Eu não sei quem começou esta guerra, quem sabe foram os brancos, mas os brancos podem ser os nossos dirigentes políticos. É branco quem nos manda. Gostaria que parassem com esta guerra para podermos voltar a viver nas nossas terras. Esses donos só sabem lutar.