Yana Francisco, Pemba

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Eu nasci aqui em Pemba, cresci aqui com os meus pais e os meus irmãos. Depois saí para Maputo, fiz pequenos cursos de relações públicas e marketing, comecei a trabalhar, aprendi muita coisa. Fiquei lá durante 5 anos, só voltei em Pemba para estudar à noite, mas os meus pais tinham-se separado e não tive condições de continuar.

Em 2012, comecei com o trabalho do activista. Sempre quando ia para casa do meu pai, eu via pessoas na MULEID e passei a frequentar. Chegou um tempo que precisavam de mais pessoas para o activismo, então eu fui para lá e disse que queria-me inscrever.

Nessa altura, ainda não conhecia os direitos da mulher. Quando comecei a participar nas conferências, foi quando aprendi mais. Faço palestras nas escolas e nas comunidades sobre violência doméstica e casamento prematuro. As raparigas gostam muito, porque antes não se ouvia falar sobre esse assunto. Agora trabalho com as mulheres aqui do centro.

Por onde passo, há violência, mas as mulheres não gostam de se abrir, não sei se é uma questão de medo. Na minha zona, os homens casam com duas mulheres e a outra deve aguentar tudo o que marido faz sem reclamar.

O casamento prematuro é outro problema, dizem que é por causa da religião, se vier um homem e pedir em casamento a sua filha, o pai deve aceitar. O bom é que muitas raparigas agora querem estudar.

Nós ouvimos primeiro, em 2017, que as zonas costeiras como Macomia e Mocímboa já tinham Al-shabaab, depois ouvimos Quissanga, começámos a ver imagens chocantes nas redes sociais, depois começaram os deslocamentos. Estão a dizer que os insurgentes vieram da Tanzânia se fazendo de muçulmanos. Depois os pais mandavam os filhos para a madraça, porque acreditavam que eles traziam muito conhecimento religioso.

Cada um fala da sua maneira. Dizem que nos estão a expulsar da nossa terra para tirarem petróleo, outros dizem que os jovens estão a vingar-se porque esses da Total somente aceitavam pessoas de Maputo, dizendo que eles têm formação e sabem trabalhar e nós somente sabemos ir à machamba e pescar. Ninguém sabe exactamente o que está a acontecer.

Os militares tentaram ajudar a população, mas os insurgentes eram homens bem preparados, com melhores armas. Vinham em muita quantidade e conheciam bem a mata, usavam fardamentos e levavam armas, formavam mais grupos assim. Com essa roupa, as pessoas pensavam que são os nossos militares, quando afinal andavam infiltrados entre a população. 

A situação é muito dolorosa. Eu falei com minha irmã que está em Maputo e disse que a situação é dolorosa, minha irmã disse, “Podemos fazer alguma coisa?” Eu disse que sim e ela mandou um valor, comprámos feijão, mandou o arroz que tinha em casa, e procurei mais pessoas para ajudarem. Levámos comida nas bandejas e formámos grupos de crianças, homens, mulheres e pessoas com deficiências. Era muita gente. Ajudaram muito e traziam água, bolachas, sardinhas, pães nos plásticos. Muitas organizações ajudaram, estava lá a Cruz Vermelha, OM, Promura, o Governo também às vezes trazia comida, algumas pessoas de Paquite faziam o mesmo que eu fazia.