Virgínia Albino, Muidumbe

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A minha mãe morreu no meu parto.  Me mandaram para o orfanato porque não tinha mais ninguém. A minha tia é que se preocupou comigo, mas quando me encontrou eu já era grande. Logo que cheguei lá, a família ficou feliz, graças à minha tia.

No primeiro casamento, tive dois filhos e depois separámos. No segundo, tive quatro e estamos juntos até hoje. O meu marido tem duas mulheres. Às vezes, aqui no centro, leva a roupa dele e vai embora, até parece que não estou casada. Não nos entendemos, nem nos falamos, discutimos muito. Estamos todos juntos neste centro, eu, ele, as crianças e essa mulher.

No mato, não comíamos nada, porque não fugi com nada. Dormi quatro noites no mato, e quando vi que estava mal com as crianças, no quinto dia ainda tive o azar de cair num buraco enquanto caminhava, aleijei o pé. Depois de um tempo conseguimos boleia de uma viatura que nos trouxe aqui.

Aqui vou trabalhar na machamba de dono para poder ter 50 Meticais para comprar lápis e cadernos. Essas crianças habituaram mal na nossa terra porque eu tinha condições para sustentar tudo. Estamos a passar mal, o menino anda com as calças rasgadas, as nádegas todas de fora, nem pasta para a escola não tem nada. Compro lápis e divido para todas as crianças e, mesmo assim, voltam sem lápis. 

Eu sou mãe, pai, avó. O meu marido tem outras mulheres e não trabalha. O Governo tem de trazer tropas para reforçar as que estão a lutar no terreno para terminar essa guerra. O mais importante é acabar com esta guerra. Aqui aumentou mais a pobreza. Estou a pedir apoio.