Sifa Sualehe, Macomia

compartilhe esta história:

Share on facebook
Share on twitter
Share on whatsapp
Share on email
Share on print

No ano passado, os Al-Shabaab ocuparam a minha aldeia durante uma semana, a população fugiu para o mato sem água, sem comida, a andar a pé, com crianças no colo, até se abrirem rachas nos pés. Pelo caminho, víamos crianças a cair e a morrer por causa da sede e da fome. Tirávamos capim e tapávamos os corpos, deixando-os ali mesmo, continuávamos com a nossa caminhada, em direcção à sede de Macomia. Morreu muita gente pelo caminho, principalmente crianças.

Chegámos aqui a fugir da guerra. Sobrevivemos graças a Deus, porque não conseguimos sair com nada, nem mandioca para comer no mato, não deu tempo, decidimos caminhar simplesmente. A minha mãe desmaiou no caminho, foi socorrida por um grupo que tinha farinha, fez papinha e deu à minha mãe, ela acordou e ficou bem. Os grupos ajudavam-se nessas caminhadas.

Quando chegámos em Macomia sede, quem tinha dinheiro começou a comprar coisas. O carro da OIM selecionava pessoas idosas, mulheres e crianças para ajudar a carregar, os homens não eram carregados, ficavam a procurar maneira de poder vir.

No centro convivemos bem. Ajudamo-nos uns aos outros. Não temos nenhum problema entre nós.

Quanto aos nossos costumes, temos feito as cerimónias de mulheres, por exemplo quando uma família tem uma miúda que já dá ser “mwale” convida a outra e fazem alguma coisa e dão um pequeno conselho.

Entre 10 a 15 anos, podem cerimoniar, porque antigamente as raparigas não brincavam muito mal e esperavam os 14 ou 15 anos para cerimoniar, mas agora apressam começando com 10, 11, 12, 13 anos, as famílias têm medo, as raparigas podem ficar gravidas antes de serem cerimoniadas, isso para nós é azar.

Lá na minha aldeia ainda existem algumas pessoas, mas como não recebem apoio, por causa da fome, muitos estão a morrer, saem para o mato à procura de tubérculos “Yinana” e é lá mesmo onde são encontrados por bandidos e os matam. Nós sabemos porque é um grupo com muita gente que vai no mato, aquele que consegue ver alguma coisa, foge para dar informações na Sede de Macomia

O meu sonho é ver os meus filhos tornarem-se gente boa para amanhã poderem-me ajudar.

Quero voltar em casa porque casa é casa. Voltar a fazer o que fazia para poder sobreviver, porque aqui é só sentar e se reparar com o marido, porque os homens não têm o que fazer. Ficamos só a olhar um para o outro. Então para poder aliviar esse sofrimento é só voltar em casa.